segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Esquema


BREVE SISTEMATIZAÇÃO DA HISTÓRIA GERAL DA EDUCAÇÃO

Século XV – Martinho Lutero – Reforma protestante – prédicas para que levem os filhos às escolas – escolas paroquiais

1599 – Padre Aquaviva publica a Ratio Studiorum – regras de estudo jesuítas – Contra-reforma – a Educação é para a catequese

1633 – publicação da Didactica Magna por João Amos Comênio – ensinar tudo a todos, aprende-se a fazer fazendo. Nasceu na Moravia – atual Tchecoslováquia

Século XVII – século do método – Bacon / Descartes / Locke – a mente humana é uma tabula rasa – o recém nascido só percebe o mundo exterior por meio dos sentidos – importância da Educação

Século XVIII – Jean Jacques Rosseau – século das revoluções burguesas – século da máquina. Pestalozzi – nascido em Zurique – ensaiou com crianças órfãs o método mútuo aprofundado posteriormente por Lancaster e Bell – as crianças mais velhas deveriam ensinar as mais novas – aulas passeios, sem castigos ou prêmios – seguidor de

Rosseau especialmente das obras Emilio e Contrato Social.

Herbart – alemão fundador da Psicologia Científica – O ensino deverá percorrer os seguintes passos formais – preparação, apresentação, associação, generalização, aplicação = narrativo, analítico e sintético. Esboço de lições pedagógicas – obra escrita para completar a obra Pedagogia Geral.

Froebel – alemão, seguidor de Pestalozzi, idealizador de um sistema especial de Educação para a primeira infância – fundador do jardim de infância – kindergarten. Obra: Cem cantigas de Péla 1844 – cânticos destinados a acompanhar o jogo de péla.

Século XIX – Herbert Spencer – inglês – evolução como lei universal – Darwin. Evolução é a passagem do homogêneo para o heterogêneo “sobrevivência do mais apto”. Sua obra – Educação intelectual, Moral e Física foi largamente utilizada em escolas normais, institutos para formação de professores.

Século XX – guerras, nacionalismos – facismo, nazismo, populismo. Kerschensteiner – alemão – baseado em Pestalozzi – escola ativa – colocado como educador socialista – educação fenômeno social – Escola de Trabalho – aprofundada por Pistrak – russo – pós revolução de 1917 – auto organização dos alunos – escola Josué de Castro – Veranópolis / MST.

John Dewey – 1859-1932 – orientador de Anísio Teixeira – Universidade de Chicago – “escola laboratório” -1896 / Universidade de Columbia – Nova Iorque 1904 – Educação para Liberdade.

Maria Montessori – italiana – Casa dei bambini – 1907 – importância do ambiente na Educação, mobiliário. Seu método pressupõe a libertação do aluno do professor – autonomia.

Socialistas: Teoria Progressista – Anton Makarenko – Poemas Pedagógicos – Colônia de Trabalho Gorki. Krupskaia – esposa de Lênin – enfrentar 80% da população analfabeta. Formação politécnica. Gramsci – italiano – contra-hegemonia da Educação escolar / professor como intelectual orgânico, escola unitária – humanista, de cultura geral, formativa – embasamento teórico do Ensino Médio Integrado.

Pedagogia freireana – Alfabetização de Adultos
Revolução cultural chinesa, Movimento de Alfabetização Cubano – tese de doutorado Vera Peroni – exemplo mundial

Construtivismo: Piaget, Emilia Ferreiro, Vigotsky.
Tecnicismo – taylorismo / fordismo, Teoria do Capital Humano (anos 40), Pedagogia das competências / globalização – Just in time   

Educação no séc. XIX


EDUCAÇÃO – BRASIL -  SÉCULO XIX – Modelo agrário exportador

Vinda da Família Real – 1808 – Construção de um aparato burocrático, militar, ilustrado para “abrigar” a corte portuguesa Biblioteca Nacional – 60.000 volumes da biblioteca do Palácio da Ajuda / Portugal / Jardim Botânico / Imprensa Régia / Museu Real

Roda dos Expostos nas Santas Casa (fim na década de 40 séc.XX; orfanatos para meninas - ordens religiosas

Bahia: Academia Real da Marinha e Cirurgia – 1808 / Medicina, anatomia e cirurgia – Rio de Janeiro 1809 / Academia Real Militar 1810 freqüentadas por 3.713 alunos 

1820 – 20 escolas femininas / 1823 – Liberdade de Ensino – Reforma Leôncio de Carvalho / Ensino Secundário Particular nas Províncias

1827 – Faculdades de Direito em Recife e São Paulo – quadros superiores do Império / excluindo os formandos de Medicina, Engenharia e Artes que antecederam as faculdades de Direito

Ato Adicional de 1834 – delegou as províncias o direito de regulamentar e promover a educação primária e secundária – nas capitais liceus provinciais / ensino secundário ficou na mão da iniciativa privada, ensino primário – abandono, com poucas escolas, sobrevivendo a custa de sacrifícios de mestres-escola. O ensino secundário foi destinado a preparação para o curso superior = sem obrigatoriedade de freqüência, matrícula por disciplina, eliminou a seriação 1854: 20 Liceus, 148 aulas avulsas

Escola Central – 1858; Escola Politécnica 1874; Escola Nacional de Engenharia (aulas avulsas). Palmatória reconhecida em 1827 – Lancastre -

1a Escola Normal – Niterói 1835- extinta em 1849; 2a escola normal criada em Minas 1835, instalada em 1840, fechada e, 1852, criada novamente em 1859 – reinstalada em 1860. Na Bahia escola Normal criada em 1836, só passou a funcionar em 1843. São Paulo criada em 1846, com um único professor, fechada em 1867, sendo reaberta em 1875, e novamente extinta dois anos para funcionar em 1880. – menos de 20 em todo o Império em 1832, sem fiscalização pelas municipalidades.

1856 – Liceu de Artes e Ofícios, 1864 – Ensino Comercial no Rio de Janeiro e em Pernambuco; Colégio Pedro II – 1837;

1864: nas duas faculdades de Direito estavam matriculados 826 alunos, 294 em Medicina, 154 em Engenharia (Escola Central) e 109 na Escola Militar e de Aplicação = formação acadêmica, humanística e retórica

1870: influência médico-higienista nas questões educacionais – difusão do uso da mamadeira / puericultura / novo código penal – 1890 = punição dos crimes sexuais

1892 – Benjamin Constant = Ministro da Instrução, Correios e Telégrafos – União cabia controlar e criar a instrução superior em toda a Nação, bem como criar e controlar o ensino secundário acadêmico e a instrução em todos os níveis no Distrito Federal, e aos Estados cabia criar e controlar o ensino primário e o ensino profissional, que, na época compreendia escolas normais  (de nível médio) para moças e escolas técnicas para rapazes. Sistema dual de ensino = herança do Império – Educação acadêmica e aristocrática – pouca importância à educação popular, preconceito com o trabalho que não fosse intelectual. Formação de quadros para a “inteligência” do regime.  Liberalismo excludente – Constituinte de 1891

Educação Indígena


Alguns períodos não-lineares da História da Educação Escolar Indígena

Período caracterizado como colonial que estendeu-se até o advento da República – predomínio da catequese e das ações educativas par desmantelar culturalmente os povos indígenas e suas distintas identidades;
 No século XIX, com a República, poucas iniciativas governamentais que não ultrapassaram a retórica;
- Século XX – novo período da História da Educação Escolar Indígena, intimamente ligado à modernização e consolidação do Estado Nacional. Intenso processo de escolarização, visando “a integração dos índios à Comunhão Nacional”.
- 1910 – criação do Serviço de Proteção ao Índio e Localização dos Trabalhadores Nacionais (SPILTN),
mais tarde recebendo a denominação específica: Serviço de Proteção ao Índio (SPI);
- Código Civil de 1928 – submetido ao Estado Nacional, vinculado ao poder tutelar;
- Marcas dos discursos do SPI e da FUNAI (a partir de 1967) –  necessidade de tecnologias do mundo Ocidental para dialogar com os não-índios, devido a vida próxima às cidades, “para ir atrás de nossos direitos” (Dário, p.405);
- 1915 – centro agrícola existente no RS  - Apressar a passagem para a situação de trabalhador nacional;
 nos anos 20 e 30 do século XX a criação de escola espalhou-se por algumas comunidades Kaingang;
- Em 2002: 53 escolas Kaingang e 14 escolas Guarani no RS;
- Nos anos 90 – desenvolvido o primeiro curso de Magistério para professores Kaingang; Os Guarani estão participando, pela primeira vez, de formação específica numa ação que aglutina os estados do sul;
- Desde 1988, a gestão de política escolar indígena no RS está a cargo da Secretaria da educação;
- Desde 1931, funciona a Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Rethán Leopoldino, que é a instituição escolar mais antiga, anteriormente denominada Leão XIII;

 XVI à XVIII – o “catecúmeno cristão”, a premissa das ações educativas era cristianizá-los;
- XIX – visava-se a civilização para o nativo, convertendo-os ao catolicismo e ao trabalho;
XX – o nativo é idealizado como cidadão nacional, patriota, consciente de seu pertencimento à nação brasileira, integrado e dissolvido na imaginada sociedade nacional, contraditoriamente submetido ao poder tutelar;

Educação dos Negros

Palestra de Ricardo Henriques – SECAD / MEC no Salão de Extensão 27/9/06:  65 milhões de pessoas sem Ensino Fundamental completo; 33 milhões sem 4ª série; 16 milhões analfabetos absolutos. BRANCOS: 8,4 anos de estudo / NEGROS: 6,1 anos de estudo = PADRÃO DE DESIGUALDADE

NEGROS E EDUCAÇÃO NO BRASIL – Luiz Alberto Oliveira Gonçalves in 500 Anos de Educação no Brasil org. LOPES, Eliane Marta Teixeira et al. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

- Reforma Leôncio de Carvalho de 1879 – instituía obrigatoriedade do ensino dos 7 aos 14 anos e eliminava a proibição de escravos freqüentarem as escolas públicas.

- Cursos noturnos: Decreto 7031 de 06/9/1878
RS: Escolas negavam acesso a negros escravos e livres / cursos liderados por abolicionistas, republicanos, críticos da Igreja católica e defensores da instrução do povo / incutir preceitos de moralidade e civilidade que acreditavam estar ausentes na população negra.

Século XVII – Quilombos

Século XVIII – Irmandades dos negros católicos

- EUA – cristãos brancos impediam aos escravos acesso à cristianização por causa das implicações de igualdade na Bíblia. Sentido protestante: evangelizar é educar no sentido pleno. Batismo: atentado aos interesses de proprietário. Separação das Igrejas nos EUA / Teologia Negra / Igreja Negra

- Brasil – tanto fazia cristianizar ou não na visão dos proprietários – permitiu os cultos afros / Irmandades colaboraram / um padre branco as coordenava. 1719 – proibição do compadrio negro. Santos estão na base do catolicismo popular do Brasil colonial – não Jesus Cristo.  As Irmandades eram associações de assistência e de ajuda material, não de escolarização.

- Início do século XX – entidades negras de caráter cívico e recreativo que davam cursos para os negros (crianças e jovens), visando a melhoria da auto-imagem da população negra.

Solidariedade de classe nessas instituições.
Frente Negra Brasileira – 1936 = agrupar, educar, orientar.

A PEDAGOGIA DO MEDO: DISCIPLINA, APRENDIZADO E TRABALHO NA ESCRAVIDÃO BRASILEIRA -  Mário Maestri in Histórias e Memórias da Educação no Brasil, vol I séc. XVI –XVIII. STEPHANOU, Maria BASTOS, Maria Helena Câmara (org.) Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

Literatura específica da Pedagogia Servil: padres Jorge Benci: Economia cristão dos senhores no governo dos escravos; André João Antonil: Cultura e opulência no Brasil por suas drogas e minas; Manuel Ribeiro da Rocha: Etíope resgatado: empenhado, sustentado, corrigido, instruído e libertado e Análise sobre a justiça do comércio do resgate de escravos da costa da África do Bispo Azeredo Coutinho.

- Formas de produzir o produtor do escravo ideal = ensaios sobre o Brasil e os manuais de agricultura do Império.
“Na África, eram múltiplos os caminhos que permitiam a metamorfose do aldeão em um cativo vendido em uma feitoria da costa africana – venda pelo patriarca da família; redução judiciária ao cativeiro por dívidas, feitiçaria, adultério, homicídio, captura por seqüestro, razias e guerras, etc.” p. 194
- Travessia do interior até o litoral, embarque no tumbeiro, perda do nome africano, marcação a ferro com o símbolo da Coroa ou do comprador, batismo sumário com marcação a ferro de uma pequena cruz – óbolo sacerdotal.

O castigo físico como pedagogia do medo para torturar a alma
Meio urbano: aluguel de escravos de ofício
Anúncios de jornais demonstram instrução de meninas escravas junto das brancas – alfaiates, ajudantes de comércio exigiam alguma instrução.
Cuidado com possíveis generalizações de Gilberto Freyre

Vídeo Tarefa

Oi pessoal,
assistam esse vídeo e elaborem um comentário para entregar para a profa. Simone.

É só acessar o link abaixo:
https://www.facebook.com/photo.php?v=479211302102385

Contribuição do Rodrigo Couto

domingo, 21 de outubro de 2012

Verdades Reveladas


Por Jackslene Silva
Sônia. “Pau de arara? Choque elétrico? Pancadas? Chutes? Pode escolher”, insistia o cabo Anselmo, esperando que sua vítima fizesse a escolha. Depois de ter o corpo completamente despido e molhado, Sônia, a jovem militante pernambucana, teve o corpo enrolado por fios elétricos e recebeu choques nos ouvidos numa voltagem tão alta que chegou a inflamar sua garganta. O golpe a impediu de comer e beber durante dias. Mesmo assim, ela não parava de urinar e, ao pedir para usar o banheiro, foi conduzida a mais uma sessão de tortura com choques intermináveis.
Sônia Arruda Beltrão
Os golpes lhe causaram uma tensão neurológica incontrolável que fazia sentir os choques todo o tempo. “Tenho a impressão de que fiquei com cara de louca”, contou Sônia Arruda Beltrão, hoje arquiteta, ao lembrar a única vez em que teve companhia na cela. Quando uma nova detenta a viu ficou apavorada com a situação. Sônia avisava para a recém-chegada não deitar, sentar, nunca tocar o chão, as paredes e todo o resto. Sônia dava choque em tudo. Diante do estado perturbado em que Sônia se encontrava, a novata pediu aos gritos para trocar de cela.
O questionamento mais intrigante para a maioria das pessoas, quando se fala da ditadura militar é: por que estas pessoas foram torturadas? Mais: o que realmente aconteceu neste período? Como Sônia, dezenas de pessoas foram torturadas no Brasil, mas muitas não sobreviveram para responder às várias perguntas ainda hoje em aberto. Muitas foram sequestradas e, depois desapareceram. Mas muitas ainda vivem para contar o que viram e viveram no cárcere da ditadura pernambucana. Este foi o tema de meu trabalho de conclusão de curso.
Em uma dessas entrevistas, ouvi de Sônia: “Sentaram-me numa cadeira e me mandaram ficar com a coluna reta. Um soldado com um fuzil mediu minhas costas e, fazendo mira, tentava ver onde seria melhor para me dar um tiro. Eu acreditei, pensei que iria morrer”. Ela ainda chora só de recordar o episódio.
Lourdes e as operárias
Lourdes. Em outro local do Recife, a voluntária da Juventude Operária Católica (JOC), Maria de Lourdes Silva, foi sequestrada dentro de seu apartamento simplesmente porque desenvolvia um trabalho de inclusão social com jovens prostitutas da cidade de Timbaúba, no interior pernambucano. Era uma espécie de porta-voz das trabalhadoras das fábricas da capital. Lourdes estava com três meses de gravidez quando foi presa. Nos quatro meses seguintes, recebeu choques pelo corpo inteiro e foi obrigada a engolir um remédio desconhecido. Só usava o banheiro quando era observada. Ela passou todo o período da prisão sem tomar banho, pois tinha medo de sofrer abuso sexual.
Lourdes temia por sua vida, preocupava-se com sua família, mas principalmente temia pela vida do filho que estava se desenvolvendo num ventre materno atormentado por choques, pancadas e gritos diários. As explosões nas ruas não lhe permitiam dormir; e como o bebê não mexia, pensou que ele pudesse ter morrido. Um certo dia, para sua surpresa, o bebê se mexeu, como se desejasse tranquilizar a mãe. “Foi impossível conter a emoção, chorei incontrolavelmente mesmo correndo o risco de ser agredida por isso”, lembra com os olhos marejados.
Ivo: Ivo, carteiro e pichador
Maurílio. Abaixa a ditadura! Dizia a pichação feita às pressas nos murros das lojas, fábricas e, casas próximas ao centro do Recife. Maurílio Cruz era um jovem idealista. Começou a fazer coro aos protestos na capital pernambucana quando ativista que se dizia comunista no pátio da escola onde estudava. Este encontro fez Maurílio ganhar um nome secreto. Ivo. Era como era chamado pelos integrantes do Movimento Revolucionário Cristão (MCR). A partir deste dia, fez pichações e panfletagens em frente às fábricas e, especialmente, entregou cartas vindas de todas as partes do país com orientações sobre como os companheiros deviam agir para alcançar seus objetivos.
A opressão existente entre os que buscavam uma sobrevivência justa e sem exploração tornou a vida dos trabalhadores e militantes um tormento, sobretudo para a população de Recife, que tinham como no resto do país uma longa jornada de trabalho e recebiam cerca de 10% do valor total do produto final.
Tal fato causou a indignação em muitos militantes que se reuniram nas ruas e praças para orientar o povo a buscar as mudanças necessárias. As condições de trabalho brasileiras eram sub-humanas em todos os setores, e não eram raras as notícias de funcionários que perdiam membros por tétano causado pelo contato com objetos enferrujados ou que adoeciam com tuberculose, pneumonia, febre reumática entre outras doenças que se proliferavam no ambiente de trabalho devido à falta de prevenção ou tratamento das doenças, a má alimentação ou ausência da mesma no local de trabalho.
A população era orientada a entregar qualquer suspeito de atitude antipatriótica. A delação era feita para a rádio local. Maurílio fora entregue por vizinhos e, em questão de horas, estava na sede do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Depois do interrogatório, foi transferido para a Casa de Detenção do Recife, onde logo conheceu a solitária. A cela da tinha cerca de 80 centímetros quadrados e sem a passagem de ventilação o calor tornava-se insuportável ao fechar a porta. Com um buraco no canto da parede substituindo o vaso sanitário e o excesso de fezes deixado pelos presos anteriores, respirar tornou-se uma tarefa custosa. Depois de algumas horas, o corpo solicitava outra posição e Ivo só tinha duas opções: de pé, encostado nas paredes apenas surradas com pedregulhos e molhadas de urina, ou sentado sobre as fezes no chão. As horas se passaram e o cansaço o venceu, e Ivo terminou decidiu se sentar. Parte do rosto, braços e pernas foram cortados pelos pedregulhos.
Iberé. Iberé da Costa, militante do Partido Comunista do Brasil (PCB) conheceu Engenho Galiléia em 1964. Em visita aos engenhos encontrou Rogaciano, um camponês simples que ganhava a vida nos canaviais da região. O corte de cana rendia pouco aos trabalhadores que não conheciam o que era um banheiro em seu domicílio. Rogaciano convidou Iberé para dormir em sua casa de choupana, toda de palha, de três cômodos. Ali havia uma rede, uma pequena mesa com dois bancos, e três pedras que usava como fogão onde cozinhava sempre que voltava do canavial. A influência dos socialistas trouxe possibilidades de transformações na vida dos camponeses. Após denúncias realizadas pelas Ligas Camponesas, os espancamentos e assassinatos constantes realizados contra os agricultores da região reduziram, mas não terminaram. Fora aberta investigação e comprovada a veracidade dos fatos quando encontraram cabeças, dedos, pés, e ossadas inteiras dentro do açude do Engenho Serra. “Esses corpos nunca foram identificados nem seus assassinos foram descobertos ou punidos, os açudes, barragens e rios estão cheios de sangue de inocentes”, afirma Iberé, que morou nos engenhos por vários meses.
Teresa. A professora de Historia, Teresa Vilaça resolveu ajudar os camponeses porque o campo havia se tornado um ambiente de discussão e participação popular. A escolha lhe rendeu quatro anos nos porões da ditadura. Militantes de vários partidos e de vários estados vinham socorrer Pernambuco que havia atingido o nível máximo de absoluta miséria social.
As reuniões aconteciam à noite na zona canavieira, muitas vezes às escondidas e depois de longas caminhadas a pé no meio do mato. “Muitos morriam de fome ou assassinados por terem reagido aos desmandos dos senhores e seus capangas. Chegara a vez de buscar melhorias para as famílias que levavam seus parentes para enterrar em redes durante o dia e dormiam nas mesmas redes à noite”, defende a historiadora.
Toda interrogação na sede do DOPS gerava pânico nos militantes. Para Tereza, era mais que isso. Ela foi levada a uma sala e pode conhecer o rosto do temido torturador Luiz Miranda, que sempre era chamado quando o investigado não queria colaborar. “Ele olhou para mim e disse ‘eu sou Miranda e eu vou lhe torturar’. Em resposta eu disse ‘diz isso porque eu estou algemada’. Recebi a maior tapa na cara da minha vida, que deu início a muitas torturas”, recorda chorando.
Como historiadora, Tereza teve a oportunidade de saber que caminho a história do Brasil tomava quando dentro do presídio, o Instituto Bom Pastor, teve contato com as presas comuns, e soube que várias delas também eram camponesas presas por roubar para tentar alimentar seus filhos. Ou jovens que se prostituíram e eram expulsas de casa. “Lembro de uma jovem que foi presa por tentativa de assassinato dos três filhos, porque ela pulou no rio com os três filhos por não suportarem a fome e não terem a ajuda de ninguém. Estas eram as criminosas do Brasil”, lembra.
Gabriel Veloso
Gabriel. A forma desumana e avassaladora com que as desigualdades foram expostas contribuiu para a reflexão sobre o sentido real de tamanha indiferença social. E esta meditação reuniu mais jovens idealistas como Gabriel Veloso, que tinha apenas 27 anos quando, como membro ativo do Partido Comunista do Brasil (PCB), visitou as regiões usineiras do estado historicamente conhecidas como desenvolvido pelo fino açúcar, o “ouro branco”, que trouxe riqueza para alguns e fome para outros. A disparidade causou um choque de realidade no jovem idealista, pois não esperava encontrar o gado morto de sede na estrada, crianças pálidas de anemia ou inchadas de verminose, desnutridas e analfabetas com pais em semelhante situação. “Jamais pensei que alguém vivesse assim; queria que a vida daquelas pessoas fosse diferente”, comenta.
Em 20 de abril de 1964, Gabriel recebeu a visita de Selma, uma namorada que lhe trouxe um recado de um delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). “Ele disse que é melhor você se entregar.” Convencido de que Selma fora coagida e para evitar mais represálias, ele se dirigiu no mesmo dia à delegacia e foi conduzido a um setor de tortura chamado de Bunker para que falasse sobre sua atuação junto às Ligas Camponesas e, principalmente, revelar os nomes de quem participava e o que faziam. Foram seis dias de interrogatório até ser levado à Secretaria de Segurança Pública e depois conduzido à Casa de Detenção do Recife.
Em sua cela no segundo andar da prisão, Gabriel podia ver a Estação de Metrô do Recife e observar os detalhes de sua arquitetura como os pássaros em estilo barroco que mesmo com asas estavam presos à construção. Esta imagem gerava piadas de alguns presos. “Certa vez, um dos presos políticos disse em tom de ironia que só sairíamos daqui quando aqueles pássaros voassem. Os pássaros não precisaram voar e eu estou livre. O lamentável é que outros companheiros não tiveram a mesma sorte.”
Hoje as ex-presas e presos políticos e seus familiares pedem que as Comissões da Verdade tragam à sociedade a veracidade dos fatos ocorridos no período. Sabem que a Justiça brasileira inocentou a maioria dos torturadores do período. Enquanto isso, os relatos de Lourdes, Gabriel, Sônia, Iberé, Maurílio e Teresa Vilaça ajudam a revelar as verdades escondidas no período fora do eixo Rio-São Paulo, os epicentros da opressão.

Comissão de Educação aprova limite para número de alunos por turma



As turmas de pré-escola e dos dois anos iniciais do ensino fundamental deverão conter no máximo 25 alunos, segundo estabelece o projeto de lei do Senado (PLS 504/2011), de autoria do senador Humberto Costa (PT-PE), aprovado nesta terça-feira (16), em decisão terminativa, pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte.


Reportagem completa:
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=84598

Contribuição do Rodrigo Couto

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Resenha - Maquinaria Escolar

Oi pessoal,
segue abaixo o link de um blog com uma resenha bem interessante sobre o texto "Maquinaria Escolar".

Acessem:
http://geoeducador.blogspot.com.br/2010/03/resenha-do-texto-maquinaria-escolar-de.html

Vale à pena conferir.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Imagens da Nação Brasileira

Apresentação realizada pelo Mateus na aula do dia 08/10/12.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Texto Imagens da Nação Brasileira

Neste link do 4shared, está o texto "Imagens da Nação Brasileira" de Maria Eliza Linhares Borges. Nesse texto ela pretende apresentar panorâmicamente a visita que o pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768 - 1848) faz ao Brasil, documentada em sua obra "Viagem Histórica e Pitoresca ao Brasil" (1834 - 39), bem como sua concepção da história brasileira e da formação do povo brasileiro.

De qualquer modo, é um texto muito interessante para se pensar a construção da nação brasileira a partir da pintura e também para se fazer uma relação entre o trabalho dos históriadores da arte com o ensino e com a pesquisa histórica.


link:

http://www.4shared.com/get/RwtPeKJ7/Imagens_da_Nao_Brasileira__Mar.html

"Os monstros" e a vida de Che Guevara são tema de cursos na Biblioteca Municipal








Che Guevara: vida e morte de um revolucionário, com Voltaire Schilling
Das 18h30min às 20h, dias 8, 15 e 22 de outubro de 2012
Teatro Renascença (Av. Erico Verissimo, 307)
R$30 para público geral / R$15 para estudantes, professores, maiores de 60 anos e funcionários da PMPA - Valor para todo o curso.
Das 18h30min às 20h, dias 10, 17 e 24 de outubro de 2012
Sala Álvaro Moreyra (Av. Erico Verissimo, 307)
R$20 para público geral / R$10 para estudantes, professores, maiores de 60 anos e funcionários da PMPA



Mais informações no site do evento:
http://coordenacaodolivro.blogspot.com.br/2012/09/os-monstros-na-tradicao-ocidental-por.html
http://coordenacaodolivro.blogspot.com.br/2012/09/che-guevara-e-tema-do-novo-curso-de.html

Nova Exposição no Museu da UFRGS

 
 
 
 
 
 
 






domingo, 7 de outubro de 2012

Clubes Negros e Imprensa Negra


CLUBES NEGROS E IMPRENSA NEGRA: ELO SOCIAL PARA A MOBILIDADE AFRO-GAÚCHA
Sátira Machado, jornalista

No Brasil,  enquanto plantavam, colhiam, engomavam e curavam os  descendentes de  africanos/as  incluíram
vários elementos da cultura negra no dia-a-dia dos brasileiros. Reagiram de várias formas às más condições de vida e
usavam a jinga da capoeira para se defender e o toque do tambor para se comunicar (JANHEINZ, 1963).  Nesse
exercício, num primeiro momento, era a tradição oral a responsável pela transmissão de valores, de mitos, de enigmas,
de fórmulas e demais criações dos vários grupos étnicos advindos do continente africano, que ao longo das gerações
vem recriando a cultura afro-brasileira. Num segundo momento, a Imprensa Negra passou a cumprir um importante
papel  no registro da historiografia  das e dos  afrodescendentes,  uma vez que  os meios de comunicação eram e são
incluídos nos processos de socialização dos Clubes Sociais Negros.
No Rio Grande do Sul, a Imprensa Negra é legitimada com periódicos como: O Exemplo (Porto Alegre, 1892-
1930), A Cruzada (Pelotas, 1905), A Navalha (Santana do Livramento, 1931), A Revolta (Bagé,1925), A Hora (Rio
Grande, 1917-1934), A Alvorada (Pelotas, 1907- 1910; 1930 – 1937; 1946 – 1957), O Ébano (1962). (SANTOS, 2003).
Na  década de 70,  foi lançada a revista gaúcha  Tição
1
, publicação que tinha como principal pauta o debate sobre a
discriminação racial no Brasil. Em 1987, o Centro Ecumênico de Cultura Negra (Cecune) passou a executar projetos
sociais, principalmente de cunho comunicacional, promovendo mostras de cinema e vídeo  com a temática negra, em
Porto Alegre.  O Cecune promoveu ainda a edição do Jornal Como é (1995 – 1998), a publicação da Revista Conexão
Negra (2003) e, atualmente, mantém o website Nação Z.
TIÇÃO COMO É CONEXÃO NEGRA JORNAL DE
IMPRENSA NEGRA
Muitos desses informativos foram produzidos por negras e negros ligados aos clubes negros, como a sociedade
Floresta Aurora,  a  associação  Satélite Prontidão, o Clube Fica Ahi Pra ir Dizendo,  entre outros. Os Clubes Sociais
Negros
2
são  espaços de resistência cultural criados para fazer frente à proibição da entrada  de negros/as em clubes
sociais das elites  não-negras  brasileiras.  Nesses clubes próprios, os homens e as mulheres  negras empreendiam
atividades estratégicas de socialização para a garantia da mobilidade social dos afro-brasileiros, principalmente voltadas
à instrução/educação da comunidade negra. O jornal A Alvorada (Pelotas/RS) foi um dos periódicos com mais tempo de
circulação na história da Imprensa Negra brasileira. Estreitamente ligado ao Clube Fica Ahi Pra ir Dizendo, de Pelotas,
noticiou o cotidiano de uma elite negra urbana, formada por operários no período pós-abolição do Rio Grande do Sul.
FRENTE NEGRA
BRASILEIRA
A VOZ DA RAÇA  O EXEMPLO A ALVORADA
Em  São Paulo, a Frente Negra Brasileira (FNB)  mantinha o jornal  A Voz da Raça cujo lema era:  A
emancipação dos negros tem que ser obra dos próprios negros. Criada em 1931, a FNB foi o primeiro e único partido
político negro da história do Brasil. O partido foi desmontado pela ditadura do Estado Novo em 1937
3
. Intensificando a
representação política da comunidade negra gaúcha, a Frente Negra Pelotense (FNP) foi fundada em 1933. Muitos dos
propósitos da FNP foram fortalecidos nos diálogos com a Frente Negra Brasileira (FNB), através do jornal A Alvorada.
(SANTOS, 2003).
Na história da Imprensa Negra brasileira registra-se ainda a preocupação com a cidadania educativa dos afrobrasileiros, como pontua Jacira Reis da Silva (2001). Ela  estudou as mulheres negras e sua participação na luta por
educação através do jornal  A Alvorada. A pesquisadora  ressaltou  o papel alternativo desse periódico na formação
                                               
1
No formato revista entre 1978 e 1979, tornando-se jornal em 1980.
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No RS, existem mais de 50 Clubes Sociais Negros que eram sociedades ou associações recreativas, educativas e culturais – algumas centenárias,
outras extintas. Ver dissertação Clubes Sociais Negros: lugares de memória, resistência negra, patrimônio e potencial de Giane Vargas Escobar,
defendida na Universidade Federal de Santa Maria/RS.
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www,portalafro.com.brcultural e educacional das comunidades negras, bem como a presença marcante das mulheres na Imprensa Negra
Pelotense em períodos históricos onde o espaço público era predominantemente ocupado por homens brancos.
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Desde então, valendo-se de jornais, de programas de televisão, de filmes, de rádios comunitárias, de revistas,
de vídeos, entre outros meios de comunicação, os/as afrodescendentes usam a mídia para divulgar vários aspectos das
comunidades negras do Brasil e do mundo. A popularização dos preços dos computadores, a expansão da telefonia e o
incremento das políticas públicas de inclusão digital abriram caminho para  a maior circulação de conteúdos  gerados
pelos movimentos sociais negros
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. Exemplo vivo  são as  informações  do movimento clubista negro disponíveis no
“Portal para os Clubes Sociais Negros do Brasil”, um projeto do Museu Treze de Maio do RS, proveniente do Clube
Afro-Ferroviário Treze de Maio da cidade de Santa Maria, que completa 108 anos de existência e resistência em 2011.